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Konrad Zuse (direita) e Helmut Schreyer (esquerda) em Berlin, 1936

A minha homenagem a um pioneiro das Telecomunicações que conheci em 1984:

 

DR. HELMUT THEODOR SCHREYER

 

 "Deixem os cavalos pensarem pois eles têm a cabeça grande"
                                   Helmut Theodor Schreyer  

 

A dedicação encontrou Helmut
Um cientista não recompensado.
As guerras o perseguiram,
Afastando o silêncio procurado,
Sua vida foi seu trabalho, 
Ensinando o caminho
Iluminado, sempre à frente
Por que ser diferente?

 

 

 

            Apesar do pouco contato que tive com Dr. Helmut, pude conseguir através de sua esposa, D. Hilze, um relato interessante da odisséia de sua vida. 

 

            Helmut Theodor Schreyer nasceu no dia 4 de julho de 1912 na pequena cidade de Selben, na Alemanha. Estudou de 1919 a 1923, do primário ao colegial em Mosbach, Baden e ingressou na Universidade Técnica de Berlin-Charlottenburg, onde cursou Engenharia Elétrica. Seu estágio de um ano foi feito na Siemens e na AEG, nessa mesma cidade. Diplomou-se em dezembro de 1938. Seu curso, entre outras matérias, abrangia: Telégrafo, Telefone automático, Alto freqüência, Transmissão à distância, Eletricidade Teórica, Acústica. Seu diploma possuía uma enorme águia em relevo com a suástica do partido nazista. Em janeiro de 1939 é nomeado primeiro assistente na Universidade técnica de Berlin, nas cadeiras de Telegrafia, Telefone Automático, Transmissão a Distância e finalmente passa para o cargo de professor na mesma Universidade onde faz o doutorado com a tese: Relés de Tubos e Técnica de Comunicações.

 

            Em 1934, na Universidade, Dr. Helmut conheceu Konrad Zuse, que abandonou a universidade para seguir a carreira artística. Zuse tinha o dom de inventor e criou uma máquina de revelar e copiar fotos coloridas automaticamente. Devido à crise na época e à escassez de empregos, ele retorna à Universidade de Berlin e forma-se em engenharia civil em 1935.Seu primeiro emprego foi como projetista na fábrica de aviões Henschel. Konrad era obrigado a repetir seus cálculos como projetista inúmeras vezes, tornando a tarefa cansativa e monótona para ele. Tentando se livrar da régua de cálculo, desde o tempo de estudante até seu trabalho de final de curso, Zuse desenvolveu em 1934, ainda estudante, os princípios de uma máquina de calcular que utilizava os conceitos de unidade de memória, seletor, dispositivo de controle. Os trabalhos na Henschel reforçaram e fizeram-no persistir na idéia da máquina que pudesse efetuar os cálculos desejados. Para isso utilizou, como local de trabalho e laboratório, a sala de jantar do apartamento dos seus pais, em Berlin. Em vez da aritmética decimal utilizou os conceitos de aritmética binária, estudados por Gottfried Leibniz no século 17, solicitando a ajuda de outro amigo, Walther Buttmann para o trabalho de pesquisa. Em 1936, realiza o trabalho com componentes mecânicos. Pinos e placas perfuradas representavam 0 e 1. A memória previa 64 números binários de 16 bits cada e ele finalmente conseguiu terminar a máquina graças a diversos amigos, inclusive Dr. Helmut, que o ajudaram a confeccionar as milhares de peças mecânicas. Mas à medida que a unidade aritmética tornava-se mais complexa, mais difícil era a fabricação, devido à precisão necessária. Zuse empregou filme usado de cinema 35mm para codificação e perfuração, por ser mais barato que o papel fita disponível comercialmente. Sua primeira máquina chamou-se Versuchsmodell, modelo experimental ou simplesmente V 1. Após a V 2 ele trocou de nome para não confundir com os foguetes e bombas V 1 e V 2 e passou a chamar Z 1 e Z 2.


            Helmut deu sua grande contribuição sugerindo ao amigo a utilização de relés em vez de pinos e placas. A máquina seguinte, Z 2, usava relés aproveitados de telefones usados para a unidade aritmética. Devido ao alto custo dos relés, foram empregadas somente 200 unidades e usadas, pois uma máquina completa precisaria de milhares delas. Helmut percebeu que poderiam utilizar válvulas em vez de relés, ganhando assim em velocidade. Zuse pensou que era uma piada, mais seu amigo estava certo. O problema agora era como obter cerca de 2000 válvulas necessárias para o empreendimento. Como o país estava em guerra eles solicitaram as válvulas ao Alto Comando do Exército que forneceu pequena ajuda, pois eles estimavam em 2 anos a fabricação da máquina. Até o final da guerra, Helmut construiu um computador experimental com cerca de 150 válvulas e completou sua tese de doutorado com seu trabalho em circuitos de chaveamento com válvulas. Helmut trabalhava na máquina com válvulas, enquanto Zuse terminava a Z-3, incentivado pelo Instituto Experimental Aeronáutico, que havia aprovado a Z-2. Zuse conseguiu escapar da convocação para a guerra. A máquina Z-3, terminada em 1943 graças aos amigos de Zuse, é considerada por alemães, ingleses e franceses o primeiro computador digital de uso geral no mundo. Empregava ponto flutuante e palavras com 22 bits. Usava cerca de 2000 relés e seu custo era de US$6000.00 a US$7000.00. Uma réplica dessa máquina encontra-se no Deutches Museum de Munique Após a guerra o desenvolvimento de equipamentos eletrônicos foi proibido na Alemanha. Helmut trabalhou de 1946 até 1949 como engenheiro chefe de uma fábrica de rádios em Mosbach. Em 1949, com a esposa D.Hilze e a filha de Hilze, Kristel, fogem através da Suíça e embarcam de navio para o Brasil. A mãe de Helmut foi atropelada e morta durante a guerra por um tanque americano, deixando-o bastante traumatizado.

 

            Sem dinheiro, Helmut hospeda-se num hotel em Paquetá, na Praia Manoel Luís 1 e coloca um anúncio no jornal procurando emprego e prepara seu currículo em setembro de 1949. Lá ele conta que seu último emprego na Alemanha foi num cinema do Exército Americano. Dá para compreender a esta altura por que ele não foi para os U.S.A.? Cita, ainda como sua especialidade a invenção e construção de um "relais" com válvulas de grande velocidade e uma máquina de calcular com 10000 operações por segundo. Helmut também escreveu um livro didático sobre técnica prática de rádio pela Casa Editora C.F. Muller, Karlsruhe, Alemanha.

 

            Helmut é contratado pela CEP - Comissão Executiva do Plano Postal e Telegráfico que procurava profissional para modernizar os serviços de Telecomunicações da época. Seu primeiro trabalho é projetar um Laboratório. Segue à risca o modelo europeu e executa um trabalho de primeira, apresentando ao Diretor as plantas que incluíam 3 andares. Havia laboratórios físico-químicos, para análise de materiais elétricos e eletrônicos. Era tudo muito avançado para o Brasil daquela época e por falta de verba foi reduzido a um único laboratório e mesmo assim com instrumentos simples de baixo custo, como um osciloscópio da Heathkit.         
            
            Em 1952, Helmut começa a dar aulas no IME de Medições em Comunicações, Circuitos de Comutação e Computadores Eletrônicos Digitais, matéria na qual edita umas apostilas. Requer a nacionalidade brasileira em 1959 e a partir de 1963 é contrato pela PUC para dar aulas de Circuitos de Comutação, Computadores Eletrônicos Digitais e Técnicas Digitais. No Congresso Internacional da IFIP, em Munique, em 1962, Helmut expõe seus trabalhos. Esses trabalhos se encontram agora no Museu Alemão em Munique e na GMD - Gesellschaft für Mathemathik und Dataverarbeitung ( Associação para Matemática e Processamento de Dados ) em Bonn. Graças a seu entrosamento com os oficiais no IME, os quais muitos eram seus alunos, participa de uma Comissão no Ministério do Exército em 1967 e viaja à Europa para estudar a fabricação de cristais de quartzo para aquisição de uma fábrica no Brasil.

 

            Em 1971 é criado um convênio entre o DCT e o Dentel e o Laboratório passa a funcionar para o Dentel, examinando equipamentos de telecomunicações. Muitos rádios de Faixa do Cidadão foram examinados lá. Sua equipe era composta do major Luís Carlos Palhares de Melo, que trabalhava meio expediente, o competente engenheiro Arthur Pestana de Castro, Waldyr Bento Leite, José Rebelo Simões, Antonio Fernandes e outros funcionários dedicados.

 

            Helmut possuía uma característica pessoal muito marcante. Falava com aquele sotaque alemão sempre o que pensava não importando muito a posição social da pessoa. Poderia ser um aluno seu, um oficial ou um engenheiro que naturalmente seria chamado de "burro", caso assim o julgasse. Aos poucos foi abrandando seu forte temperamento, mas era muito orgulhoso dos trabalhos que fazia. De grande estatura, era bem rígido com os costumes e educação. Não admitia, porém, os erros que cometia. Como exemplo, cito o caso dos transmissores de SSB para a Faixa do Cidadão que foram reprovados no exame da faixa de áudio. Mais tarde, percebeu-se que a própria cápsula do microfone limitava a resposta de frequência. Dr. Helmut, então passou a testar esses equipamentos com o microfone colocado sobre um alto-falante, alimentado pelo gerador de áudio. Assisti, a um teste com um fabricante de transceptores de Curitiba, que foi reprovado pois o rádio não tinha potência de R.F.. Quando retornou à fábrica, o técnico testou o rádio e telefonou dizendo que o transmissor estava perfeito. Medimos então o cabo entre o rádio e o equipamento de medição SMDU da Rohde & Schwarz e ele estava aberto! Dr. Helmut, então, confessou para mim:

 

            "Eu não podia dizer a ele que o defeito era do nosso equipamento de medidas! ", completou ele, desculpando-se.

 

            Waldyr, o responsável pela manutenção dos cabos, foi então, chamado com aquele berro tradicional, para a bronca:

 

            "Vardirrr."

 

            Da sua casa, Dr. Helmut conseguia divisar o prédio novo dos Correios na Avenida Presidente Vargas. Uma noite, com o céu claro, da sua varanda, ele vê a luz acesa do laboratório e confirma o andar com o auxílio de um binóculo. Liga imediatamente para lá e o infeliz do técnico que estava fazendo um bico à noite, atendeu o telefone e foi logo descoberto!

 

            Aceitando o convite do Governo alemão e do GMD, Helmut embarca para uma viagem de pesquisa para a Alemanha em 1977. Redige um relatório sobre os trabalhos feitos na Alemanha juntamente com Zuse durante a guerra e faz diversas palestras nas universidades de Munique e New Castle na Inglaterra. Gravou também uma fita para o Science Museum no bairro de South Kensington, em Londres, sobre os trabalhos realizados em computadores durante a guerra na Alemanha anexando os desenhos dos circuitos do primeiro computador.

 

            Conheci Helmut no Laboratório situado no terreno dos Correios em Benfica, conforme já contei, quando foi homologar meu rádio da Faixa do Cidadão. Sua morte súbita ocorreu em 12 de dezembro de 1984, ao chegar em sua casa, na Rua Almirante Alexandrino 2603, casa 38, apto 201 em Santa Teresa. Decorridos alguns meses, D. Hilze convidou-me para visitar sua casa, pois era essa a vontade do Helmut. Subi pelo trenzinho de cremalheira da sua vila. A anfitriã ofereceu-nos uma linda vista da sua janela e um lanche maravilhoso com biscoitos de nozes e castanhas segundo uma receita alemã. Mostrou-nos a tapeçaria que fazia com a máquina de tear, suas plantas e o armário que a vizinha havia jogado fora e ela recuperou com desenhos de decapê em estilo europeu. Contou-nos, com detalhes, toda a dificuldade que passaram juntos até conseguirem chegar ao Brasil.

 

            Vi a foto de sua bonita filha Kristel, que foi assassinada pelo ex-marido, um dinamarquês ciumento que a controlava doentiamente, mesmo depois de separados. Após matá-la, ameaçou também o Helmut através de telefonemas. Chegou inclusive a esperá-lo com a arma no portão, em Benfica, mas para sorte de Helmut nesse dia ele chegou mais tarde, livrando-se de uma fria. O assassino foi preso e condenado, mas a marca foi forte demais para o coração já enfraquecido de Helmut.

 

            No enterro, no Cemitério Jardim da Saudade, estavam presentes alguns oficiais representando o IME, instituição na qual nunca pagou adequadamente ao professor e por isso, perdeu no processo no qual D. Hilze moveu, os funcionários dos Correios e Telégrafos, parentes e familiares. Houve uma missa em sua memória, organizada pelos companheiros de trabalho, na Igreja da Candelária. 

 

Direitos autorais do texto reservados - Livro Memórias da Faixa do Cidadão de autoria do Eng. S. Rocha  

 

Contato: rocha@studiumtelecom.com

 

 

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